A direita perdeu a vergonha, mudou a cara e estará mais forte na Câmara Federal em 2015. Pela primeira vez desde a eleição de Lula para Presidência em 2002, o número de deputados conservadores superou aqueles que são ligados à esquerda. A constatação é de estudo feito pelo Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil, vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O levantamento mostra que o número de parlamentares de direita vem aumentando desde as eleições de 2006, após sucessivas quedas nos pleitos seguintes à ditadura militar. Na análise dos pesquisadores da UFPR, a eleição de 2014 marca um desequilíbrio entre as ideologias. “A esquerda vinha avançando, neste país em que historicamente a direita teve supremacia esmagadora, especialmente com a ascensão do PT em 2002. Agora, com novos atores, a direita volta a estar na frente”, explicou o cientista político Luiz Domingos Costa, um dos responsáveis pelo estudo.
Primeiro, a nova direita embarcou na candidatura do senador Aécio Neves (PSDB – MG) à Presidência. Embalada pelo bom desempenho do tucano, o grupo mostra-se multifacetado, mudou suas referências e incorporou novas pautas: uma minoria foi às ruas pedir o retorno da ditadura militar, outra parcela tem como ícone o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que na última semana declarou que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT – RS) por ela “não merecer”, e há ainda os setores ligados às religiões conservadoras. “Não há um partido de direita no Brasil. Tanto que muitos dizem que concordam com o que eu falo, mas não assumem. Sou uma referência mesmo”, afirmou Bolsonaro.
O deputado mais votado do Rio é indício da mudança dos representantes da direta: saíram de cena os “coronéis” (políticos de famílias tradicionais principalmente do Nordeste) e os grandes empresários em legendas robustas, e apareceram parlamentares conservadores ligados à classe média, às igrejas evangélicas, em partidos nanicos. Outros exemplos dessa direita “menos elitista”, segundo Costa, são os deputados federais campeões de voto em São Paulo, Marco Feliciano (PSC), e Celso Russomano (PRB), e os ex-presidenciáveis Levy Fidelix (PRTB) e Pastor Everaldo (PSC).
Em torno desta nova geração conservadora, estão blogueiros antipetistas e figuras públicas como o cantor Lobão — que, no último dia 8, virou notícia ao lamentar a ausência de políticos de oposição ao PT numa marcha contra a presidenta reeleita Dilma Rousseff. Mesmo tendo sido um dos organizadores da passeata e um dos mais fervorosos críticos do governo, ele não se diz de “direita”, e credita a diminuição de parlamentares de esquerda à insatisfação com o PT. “Não sou liderança nenhuma da direita, nem fascista ou golpista, como falam. Ajo como todo cidadão deveria agir, num movimento heterogêneo antipetista”.
Costa ressalta que ser de direita “não é algo ruim”. Segundo ele, deste espectro político saíram ideias fundamentais para o mundo atual, e é necessário que a direita exista para “frear” comportamentos autoritários de esquerda. Mas ele observa com preocupação manifestações extremadas de alguns setores do grupo. “A nova legislatura precisará qualificar o debate político.”
PT perde espaço graças à corrupção
O avanço dos partidos de direita, segundo Luiz Domingos Costa, é resultado de insucessos do Partido dos Trabalhadores, especialmente com os escândalos de corrupção. “O discurso cola muito. A direita apontou o petismo como criador de toda a corrupção, isso colou no partido, e ajudou neste crescimento da direita”, disse.
Em sua análise, há diversos exemplos de avanço do conservadorismo no mundo. No Brasil, ele destaca que o radicalismo da direita é minoritário, mas setores exigiram de Aécio Neves que ele ficasse “mais à direita”, por exemplo. “Parlamentares exageram suas posições para ganhar votos.”
As diferenças entre esquerda e direita, argumentam os cientistas políticos, já superaram a oposição entre capitalismo e socialismo e hoje se fiam às divergências em temas mais “micro”, como a legalização das drogas e do aborto. Com base nisto, os parlamentares que tomarão posse em 2015 são divididos em cinco grupos: centro, onde estão o PSDB de Aécio Neves e o PMDB, do vice Michel Temer; direita, cujo maior partido é o PSD; esquerda, do PT da presidenta Dilma Rousseff; pequenos de direita, do PRB, legenda vinculada à Igreja Universal do Reino de Deus; pequenos de esquerda, representados apenas pelo Psol; e os fisiológicos, “fiéis da balança” do jogo político e que transitam entre os dois espectros, como o Pros.
Fonte: O Dia