Faltando pouco mais de duas semanas para o início do Campeonato Estadual da Série B de 2015, os clubes vão se movimentando para estarem em condições de disputa em uma das competições mais acirradas do interior do estado. Mesmo com a mobilização dos dirigentes para colocar as suas equipes em campo, nesta temporada não vamos ter representantes do Noroeste Fluminense na briga por uma vaga na elite do futebol carioca diante da situação crítica em que estão as equipes.
Além da segunda divisão, não há indícios de nenhuma participação da região na Série C. O Paduano, por exemplo, clube que disputou a Série B em 2013, e em 2014 foi rebaixado, não compareceu ao arbitral que define a tabela da competição.
Campeão da Série C em 2012 com estádios lotados em Santo Antônio, o clube apelidado como Trovão Azul, vive uma situação financeira delicada e realmente não irá disputar a terceira divisão.
De acordo com o jornalista e ex-diretor do Paduano, Matheus Mandy, a dificuldade para atrair patrocinadores é um ponto relevante para que os clubes estejam atravessando este momento, já que o campeonato não se torna atrativo pela ausência das transmissões.
”Não são só os clubes do interior, mas também da capital, já que a falta de valorização do campeonato é grande. Em São Paulo você vê que as quatro divisões são televisionadas, no Rio Grande do Sul as duas primeiras e no Ceará também. No Rio, só passam jogos dos grandes na Série A e ponto. Como que você vai angariar patrocinadores e investidores sem poder oferecer aos mesmos um retorno em publicidade? São poucos sites e raramente tem TV cobrindo algo. Além disso, acho que poderíamos ter um aporte financeiro da Federação. No Torneio Amistoso, a Ferj paga tudo. Essa medida também deveria ser adotada nas Séries C e B, já que não tem TV e os clubes estão a míngua. Ainda é pouco, mas em São Paulo a Federação cede R$ 15 mil para cada clube da Quarta Divisão”, destacou.
Sobre a situação da equipe de Santo Antônio de Pádua, Mandy destacou que mesmo com boa estrutura, o time não consegue aporte financeiro sem a prefeitura.
“Saí do clube no segundo semestre de 2013, e as dívidas estavam em torno de R$ 30 e 40 mil. Em 2014, o time foi mal, e não sei como estão as finanças. Agora, com relação à estrutura, o Paduano tem uma excelente. Possui alojamento para quase 30 atletas, estádio e refeitório próprio. O problema é ter investimento com pessoas sérias, coisa difícil no futebol de hoje. Se não tiver prefeitura, o time do interior não sobrevive’’, apontou.
NORTE FLUMINENSE TAMBÉM SOFRE COM AS DIFICULDADES:
Não muito distante da região, o Cardoso Moreira, localizado no limite entre o Norte Fluminense e o Noroeste, disputou a elite em 2008, foi rebaixado para a Série C em 2011, encerrou as atividades profissionais e seu estádio serve apenas de casa para clubes da região como o Americano, que em 2014 mandou suas partidas na cidade.
Segundo o vice-prefeito Renato Jacinto, que cuida da parte administrativa do estádio, o clube não tem pretensões de retornar à prática esportiva pelas dificuldades financeiras para a disputa do estadual.
”Não temos uma previsão de retornar o futebol do Cardoso Moreira. A dificuldade ainda é muito grande, jogamos a segunda divisão em 2011 e começamos a ter algumas despesas que não tínhamos condição de pagar. Preferimos encerrar”, concluiu.
Ainda segundo Jacinto, a dificuldade não é virtude apenas dos clubes do Noroeste, já que outros clubes passam pelos mesmos obstáculos.
”Americano e Goytacaz também estão com problemas. Imagina nós aqui do noroeste. Não temos receita para colocar um clube em uma disputa que gera tanto gasto. Sem apoio dos empresários locais isso fica ainda mais inviável”, destacou.
Além do Paduano, a região é composta por várias outras equipes como o Aperibense, Itaperuna, Floresta, São José e Italva, que vivem uma situação idêntica. Um exemplo disso é a situação caótica que vive o Águia do Noroeste, como é conhecido o Itaperuna. Fora das disputas desde 2011, em 2013 a equipe cogitou vender o seu estádio, palco de jogos memoráveis nos anos 90 quando o time disputou a Série B do Campeonato Brasileiro e chegou à segunda fase da competição.
Para o jornalista Adilson Dutra, que vivenciou boa parte da história do futebol da região, o fato de os clubes terem se tornado profissionais foi um dos principais motivos para que a trajetória decaísse.
”Depois que os times de lá se aventuraram no profissionalismo tudo acabou. O Porto Alegre (atual Itaperuna) cresceu, botaram olho grande, fizeram a fuzão e acabou. O Paduano entrou, pediu ajuda aos políticos e também foi para o mesmo caminho. O Floresta tinha apoio de particulares, inclusive o Jaiminho Siqueira, pediu ajuda aos políticos e teve fim. O Miracema jogou a terceira divisão sem grana e não conseguiu jogar as semifinais e acabou. E assim foram os sonhos jogados na água”, ressaltou.
Sem qualquer perspectiva de retornar ao profissionalismo, os clubes do Noroeste ao que parecem estão realmente no cenário detalhado por Mandy e Adilson. Aos torcedores e os amantes do futebol regional, ficam apenas as lembranças e a expectativa de dias melhores em 2016, quando os clubes terão novamente a oportunidade de entrar nas disputas.
Fonte: Ururau