Municípios vizinhos no Noroeste Fluminense, Natividade e Porciúncula criaram áreas de preservação ambiental (APAs) que, juntas, formam um corredor ecológico para as espécies da flora e da fauna típicas da Mata Atlântica. As duas unidades de conservação, consideradas como uma conquista para o meio ambiente na região, têm sua origem no trabalho de organização comunitária e sensibilização desenvolvido pelo Programa Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura.
O processo se iniciou durante a elaboração do Diagnóstico Rural Participativo, documento que aponta os problemas e potencialidades das comunidades rurais e que é utilizado para o planejamento de práticas sustentáveis. Os membros do Comitê Gestor da Microbacia (Cogem) e os técnicos executores do Rio Rural identificaram a existência de áreas com alto percentual de preservação nas microbacias hidrográficas dos dois municípios e apoiaram a criação das áreas de proteção ambiental.
O secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo, avalia que a metodologia utilizada pelo Rio Rural vem aproximando o produtor fluminense das questões ambientais.
– Antigamente, a atividade agrícola era vista como antagônica à preservação do ambiente. Hoje, cada vez mais, produtores e suas famílias assumem a dianteira no processo de proteção ambiental e uso sustentável dos recursos naturais. Essa mudança é fruto do trabalho de sensibilização desenvolvido junto às comunidades das microbacias hidrográficas atendidas pelo programa – afirmou Áureo.
Em Natividade, uma microbacia inteira foi transformada em APA. Com área total de 4.301,70 hectares, dos quais 637 hectares constituem área de floresta nativa, a APA Municipal Preguiça de Coleira (inicialmente denominada APA Microbacia Capanema Marambaia), foi criada oficialmente em julho de 2012. O agricultor José Braz foi um dos moradores a favor da implantação da unidade de conservação.
– A gente vai vivendo e aprendendo a respeitar a natureza. Dá para plantar, usar solo e água sem destruir o ambiente – declara o produtor.
Subsecretária Municipal de Meio Ambiente, Maria Inês Tederiche Micichelli destaca o peso da mobilização comunitária para a criação da unidade.
– A conscientização ambiental promovida pelo Rio Rural ao demonstrar a importância da adoção de práticas sustentáveis nas propriedades rurais, tanto para qualidade de vida do agricultor quanto para o meio ambiente, foi essencial para o envolvimento da comunidade – destacou.
A região possui 44 remanescentes de Mata Atlântica, 70 hectares de áreas de nascentes, dois ribeirões (Capanema e Marambaia), pequenos córregos e várzeas. Ali foram descobertas três espécies ameaçadas de extinção: a preguiça de coleira, o sagui-da-serra-escuro, e a ave choquinha chumbo.
A expectativa agora é a implantação do Plano de Manejo e formação do Conselho Gestor, que será composto por membros da sociedade civil e órgãos públicos. A prefeitura conta com o apoio da secretaria estadual do Ambiente (SEA).
– Apresentamos um Projeto na Câmara Estadual de Compensação Ambiental (CECA) para obtenção de Recursos do FUNBIO para a APA e tivemos aprovação unânime, dada a importância deste bioma para a região – esclarece Maria Inês. O recurso aprovado foi de R$ 368 mil, que serão usados na realização de estudos e pesquisas para elaboração do plano de manejo e aquisição de bens.
Corredor ecológico intermunicipal
Vizinha à APA Preguiça de Coleira, está a APA da Perdição, em Porciúncula. Criada em 2013, abrange a microbacia da Perdição e parte urbana do município. Com total de 6.141 hectares em área de Mata Atlântica, a região é habitat de inúmeras espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção, além de ter grande beleza natural, com formações geográficas rochosas e de montanhas.
A APA é composta por 25% de florestas, com seus 38 remanescentes florestais.
– Nosso objetivo é estudar a área, criar o plano de manejo e ordenar o território, de forma a compatibilizar as atividades urbanas, rurais e de preservação ambienta – afirma Flávio Gonçalves de Souza, secretário de Meio Ambiente de Porciúncula.
Flávio participou ativamente da criação da APA em Natividade, uma vez que era, na época, o técnico executor do Rio Rural na microbacia Capanema Marambaia, e usou a experiência na implantação da APA Perdição.
– Acredito que através da criação de várias unidades de conservação na região, poderemos reverter o processo de degradação que o Noroeste sofreu ao longo dos anos, formando corredores florestais ecológicos que, como peças de pequenos mosaicos unidos, possibilitarão o fluxo natural dos seres vivos, diminuindo os problemas decorrentes do isolamento dessas manchas florestais – finaliza Flávio.
Da redação da Rádio Natividade com Ascom/Rio Rural