Eleito em outubro de 2012, após derrotar os candidatos do governador Sérgio Cabral (PMDB) e do deputado federal Anthony Matheus (PR), Gelsimar Gonzaga, prefeito da pequena Itaocara, no Noroeste Fluminense, virou notícia em todo o Brasil. Primeiro prefeito eleito na história do PSOL, ele chegou a ser apontado como uma das grandes novidades eleitorais de 2012. Porém, após um ano de governo, Gelsimar vive travando um embate com a oposição e a sua gestão, na cidade com 23 mil habitantes, já é apontada como caótica. No desespero, sem conseguir dialogar com a Câmara, o prefeito teria pedido ajuda ao deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Por sua vez, Freixo solicitou que o deputado federal Anthony Matheus (PR) ajudasse, já que o grupo do PR domina a Câmara de Itaocara.
Gelsimar Gonzaga é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e, nos últimos dias, tem usado o próprio carro, um Fusca montado com caixas de som, para convocar a população aos brados. A ideia é protestar na Câmara Municipal, controlada pela oposição. “Se quiser me matar pode matar. Nós acabamos com a corrupção, por isso estão com raiva”, diz Gelsimar, em um trecho de sua pregação, registrada em vídeo e publicada no Youtube.
Ex-sindicalista, Gelsimar assumiu o governo com medidas de alto poder de repercussão, como a redução do próprio salário, o lançamento de um Portal da Transparência e a escolha de secretários em “assembleias populares”, por aclamação. Porém, aos poucos, ele foi esbarrando em uma série de dificuldades. Uma delas foi o racha com o vice-prefeito Juninho Figueira, que trocou o PSOL pelo Pros. O prefeito alega que o vice pediu três secretarias para permanecer no governo e não sair do PSOL. O vice, por sua vez, diz ter requisitado apenas uma pasta. E acusa Gelsimar de ameaçar demitir sua noiva, contratada temporariamente assim que o partido assumiu a Prefeitura. A noiva do vice pediu demissão. E Juninho, agora em uma trincheira contra o ex-aliado, diz que abandonou o grupo por falta de espaço para trabalhar e por não concordar com a cobrança de uma taxa de 20% do salário de R$ 7.500, feita pelo PSOL, a título de “exigência estatutária do partido”.
Juninho conta que ficava incomodado em entregar 900 reais em espécie, todo mês, para uma secretária do prefeito, sem saber no que seria usado o dinheiro. “Ficava preocupado, porque não sabia para onde estava indo. Sentia até que estavam me lesando. Entregava o dinheiro na mão de uma secretária de confiança do prefeito”, diz.
O vice tem mais munição. Acusa o prefeito, que é presidente do diretório do PSOL de Itaocara, de ameaçar com represálias funcionários que não se filiavam ao partido. O Ministério Público Estadual investiga se o prefeito exige que comissionados e contratados sejam filiados ao PSOL para serem efetivados. Gelsimar nega.
Vice rompe e fica com a maioria na Câmara
A situação de Itaocara mobilizou a cúpula do PSOL no Rio. Com Gelsimar encurralado na Câmara — dos 11 vereadores, dez são de oposição — foi necessário recorrer a um aliado para tentar evitar um vexame nacional. O processo teria sido liderado pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Ao perceber que uma Câmara dominada pelo PR estava articulando o impeachment do aliado, Freixo buscou ninguém menos que Anthony Matheus para tentar uma composição. Com alguns telefonemas, Anthony Matheus articulou um encontro entre Freixo e o vereador Robertinho, presidente da Câmara de Itaocara. A conversa nas últimas semanas de 2013, também presenciada pelo deputado federal Paulo Feijó (PR), o deputado estadual Paulo Ramos (PSOL) e dois vereadores, traçou um cenário de paz para este ano. Porém, não será tão simples. O vereador Robertinho diz que não dará trégua e chama o prefeito Gelsimar de “louco”. Ele acusa o prefeito de beneficiar apadrinhados com pagamento de horas extras e de ter contratado um ônibus por R$ 7 mil para levar estudantes a um congresso do PSOL em Goiânia.
Com informações da Folha da Manhã