Conhecer o solo e trabalhar de acordo com as características do local, tendo a natureza como aliada, é o primeiro passo para a agricultura sustentável.
– Temos que trabalhar a favor da vida, aproveitando o ciclo natural das plantas e os recursos disponíveis no ambiente em que vivemos – ensina o agricultor Francisco Carvalho Belieny, produtor agroecológico de olerícolas que mora em Aperibé.
Francisco foi um dos 100 agricultores do Noroeste Fluminense que participaram da Oficina de Manejo Agroecológico do Solo, oferecida pela Rede de Pesquisa, Inovação, Tecnologia e Serviços Sustentáveis em Microbacias Hidrográficas da Região Noroeste, formada pela secretaria estadual de Agricultura (através do programa Rio Rural, Pesagro-Rio e Emater-Rio), Sebrae-RJ e outras instituições parceiras. Para facilitar o acesso aos produtores, a atividade foi realizada em Itaperuna, no último dia 12; e em Santo Antônio de Pádua, no dia 13. Os agrônomos Ana Paula Pegorer e Eiser Felippe, ambos consultores do Rio Rural, coordenaram o curso.
Na programação, palestras sobre manejo agroecológico do solo tropical, compostagem e conservação do solo. Na prática, a produção de um composto orgânico tipo Bokashi, que acelera o processo de regeneração do solo. A receita combina um farelo (arroz, trigo, cevada, milho) e uma torta vegetal (oleaginosas como mamona, girassol, soja, amendoim) e o agricultor pode usar os ingredientes que encontrar com mais facilidade.
– O agricultor é também um pesquisador. Ele testa ingredientes e observa os resultados, descobre o mais adequado ao solo de sua propriedade – explica Ana Paula, destacando os benefícios do composto.
– O composto tipo Bokashi é fonte de nutrientes para as plantas, equilibra o solo e quebra o ciclo de doenças, estimula o aumento e a diversidade de organismos que vivem na terra – acrescenta ela.
Para os próximos meses, estão previstas outras oficinas para atender a demanda dos agricultores orgânicos e agroecológicos da região, cumprindo as metas do Plano de Desenvolvimento da Cadeia de Orgânicos, construído por técnicos e produtores durante as reuniões de trabalho da Rede de Pesquisa.
Mudança de vida
Em Pádua, a atividade aconteceu no sítio Boa Sorte, na microbacia Ribeirão dos Ourives, onde a agricultora Waldevina Jardim produz húmus, frutas e flores orgânicos, certificada pelo IBD. Aos 71 anos, ela cuida sozinha da propriedade e se orgulha da mudança que promoveu na paisagem do sítio e na própria vida.
– Aqui era tudo pasto. Tive um problema de saúde (degeneração de retina) e o médico me aconselhou a voltar para o verde. Plantei flores, frutíferas e protegi a nascente. A doença, sem cura, estacionou, para espanto dos médicos – diz dona Vaninha. Ela aproveita toda matéria orgânica do sítio e não gasta com insumos. Vende as flores para empresas de buffet e igrejas da região e de Nova Friburgo. O húmus e as frutas – banana, figo, açaí – são vendidos no comércio local.
Nilo Roque Vieira Silva, agricultor de São José de Ubá, também mudou o modo produtivo. Até 2006, produzia de forma convencional, quando ele e a família foram gravemente intoxicados com o uso de agrotóxicos na couve.
– Foi um susto. Aí percebi que era preciso mudar, mas não tínhamos informação. Foi difícil, mas valeu a pena. Agora minha família está saudável e estamos felizes – afirma.
Ele produz olerículas pelo projeto PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável), do Sebrae-RJ, protegeu a nascente e vai receber uma estufa para produção de mudas e cultivo das hortaliças do Rio Rural.
– Precisamos de instrução, acesso à informação e apoio para produzir melhor e poder ficar no campo. Por isso, participo das oficinas e dos cursos. Aprendo e coloco tudo em prática – garante Nilo.
Da redação da Rádio Natividade – www.natividadefm.com.br